terça-feira, setembro 28, 2004

Genesis

I.

No início era o caos,
nada havia,
que o nenhures é mesmo assim.
Até do caos nasceu o dia,
seguindo-lhe outra noite escura.
Esta é a brochura,
o epitáfio
dos tempos inicais.
É que nestas ocasiões,
e noutras que tais,
o caro leitor perdoará a ironia,
sempre falta o testemunho directo,
sem que nada de concreto
fique de registo.

II.

Conta o relato
que ouviu contar,
de pregdor que ouvinte foi.
Mas já pode imaginar,
sem que fé alguma se desvaneça,
que a História contou-a muita gente,
se autoridade de maior.
Por pior,
seja por ousadia ou desrespeito,
que fosse o relator,
sempre encontraria o jeito,
de juntar um ponto,
uma vírgula,
ao conto, fábula ou milagre.
Que a vontade é muita
e a fé tudo move.

III.

Desculpe, caro leitor
que com o desmedido
entusiasmo de quem escreve
pelo simples gosto de o fazer,
estava a perder
o fio à meada.
Estava a contar,
como a mim mo disseram,
estas coisas das cosmogamias.
Dos caos que se transformam em dias,
na escuridão que Deus acendeu.
Recordo ouvir falar,
sem que possa fazer memória,
por não viver em tão recuado tempo.
Conta a História,
pelo Homem aceite,
que houve em ubicação imprecisa,
um paraíso sumptuoso,
em que um tal Adão vivia.
Não sabia,
e não fosse eu crente fervoso,
e era capaz de jurar,
sem pestanejar,
que a História que vou contar,
carece de confirmação.

IV.

Mas para tal move a fé montanhas,
e rios de tinta há-de fazer correr.
Escrita a História por mão masculina,
que Deus é homem toda a gente sabe.
Caiba à História ao que cabe,
fazer crer que é verdade,
tudo o que se registou.

1 Comments:

Blogger João said...

Cara Few Words:

Por mais que procure não consigo encontrar o rascunho de papel onde escrevi o resto do poema.
Prometo que assim que tiver tempo escrevo (ou reinvento)o resto.
Jinhos

3:00 da tarde  

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