domingo, setembro 12, 2004

Mão

Imagina a minha mão,
pesada e decrépita.
os traços trémulos,
as palavras espraiadas,
os ritmos dos versos.
Os dedos grossos,
as veias marcadas,
o sangue que corre
em fúria,
Contaminado.
Condenado.
Cheio daquilo que sou,
sujo de mim,
empregnado do meu ser.
ADN do tétrico.
Hoje ainda escreves,
na desobediência
a que te dedicaste.
Parar-te-ei!!
Calar-te-ei com a autoridade
de outros tempos,
com uma voz de comando.
Então cessarás o frenesim,
desse exorcismo.
Olha a minha mão
que escreve,
com desconcerto.
Um dia juntar-se-á à outra,
as duas sobre o peito,
no sossego do silêncio.
Cheia de terra.

1997


2 Comments:

Blogger João said...

Angela, este poema foi escrito em 1997 quando chorava a perda de uma namorada, e queria escrever qualquer coisa e não conseguia. A dicotomia que este poema representa é o confronto entre a vontade (a mão que escreve desobedientemente) e o talento (no fundo a arte de escrever). Poema fala da desiludão que sentia, ao ter a maior vontade do mundo em escrever e o talento resistir, cercar a acção. Por muito que a vontade conduza a mão voluntariosa, a tristeza e o cinzentismo estão sempre presente pelo facto de que quem escreve saber que a simples união de palavras dificilmente faz poesia.
Em resumo... escrevia e pouco dizia! (até rimou, isto está a tornar-se um hábito...lol)
Obrigado pelo comment.

2:47 da tarde  
Blogger Teresa Projecto said...

Pois é...A tua genialidade ultrapassa toda uma realidade...(como vês, o rimar não é um hábito só teu...lol).
Escolhi um poema ao acaso...Pois entre todos eles é difícil escolher...Seria como escolher uma parte em ti que preferisse...E tu és um só único e eterno, como já disse. Meu mentor da poesia (sim, nunca te disse mas foste tu), e de tantas outras coisas cujo gosto pelas quais me foste cultivando com o passar do tempo.
Obrigado.
Continua.Abraços.

7:40 da tarde  

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