sexta-feira, agosto 06, 2004

Dessemelhanças

Sou como tu!
Da mesma carne enfermiça,
a mesma perene condição,
Nu,
não encontrarias, em justiça,
grande distinção
entre nós.

Sou como tu!
Permite-me que o seja,
que me dispa desta diferença,
que anseja,
à semelhança
de todos os outros,
dissolver-se no plural anónimo
de uma multidão sem rosto.
A contragosto,
sinónimo
de fracassado engodo,
de sublinhado
desvirtuosismo.

Sou como tu!
Olha-me pois nos olhos,
escolhos,
vitrais lacrimejantes.
Caro leitor,
percruta-me na extensão
de cada palavra,
na tenacidade da mão
que escreve sem se deter.
Tactea-me em cada verso,
que abandono para que possas ler.
Procura-me nos nenhures de mim,
na vastidão
do só.

Sou como tu!
Quem me dera que o fosse!






1 Comments:

Blogger João said...

Cara leitora, ser diferente dificilmente traz alegria. Aquele que não se sente "mais um" sofre, tem dificuldade em socializar e corresponder nas relações pessoais que enceta.
O ónus da diferença é muitas vezes romantizado, o ermetismo do "ser um" na amalgama do plural não é de fácil permanência. O Homem é, acima de tudo, um animal social, um ser em situação, um dialogante por excelência, seja com outro, meio ou consigo próprio. Ser diferente impede essa interacção com o outro. Isto, cara leitora, traz sofrimento.

2:26 da tarde  

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