domingo, outubro 24, 2004

O Poeta

Um poeta veio sentar-se ao meu lado,
Com a calma própria dos artistas,
dos hermeneutas do mundo,
argonautas das semânticas,
Velejadores da sintaxe.

Sorriu-me com um sorriso largo,
Como uma tarde prolongada de Verão.
Olhou as ondas
Que furiosamente uivavam,
Ouviu o sussurro dos ventos,
O aviso das gaivotas.
Olhou-me, com olhos de poeta,
Com os olhos de quem pinta o mundo
À força das palavras,
E disse-me, com uma voz firme,
Algo que não esquecerei.

O poeta partiu,
Ficaram as pegadas na areia,
Ficaram os passos firmes,
O testemunho de um andar,
A recordação de uma presença.
Virá o vento,
Depois as marés,
E os pés,
As pegadas que ali ficaram,
Desaparecerão.

O poeta é mesmo assim.
É voo das gaivotas,
O mar ululante,
O vento que sopra,
As pegadas na areia,
A tempestade que há-de vir.

O poeta?
O poeta é ser!
É latido de cão vadio.
É sussurro da consciência.
É,
Tantas vezes em sofrimento,
O inimigo da página em branco!

1 Comments:

Blogger João said...

Cara amiga:

Pões-me mal a questão. O importante não é o que o poeta me disse o ouvido, o realmente importante é o que te disse a ti e a todos aqueles que leram este poema.

Jinhos.

8:48 da tarde  

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