Era uma vez...
... e nessa vez uma velha havia,
que quase era capaz de jurar
que de verdade sentia
as lágrimas que pudera chorar.
No ombro direito
Num constante sussurrar,
Um corvo que como defeito
Tinha o hábito de governar.
De ouvido esperto
As aves de rapina,
Escreviam relatórios dessa gente pequenina
Desse povo que queria mandar.
A Velha que ali sentada
Rezava ao terço junto da Cerejeira,
Três vezes a morte fora convidada,
Três vezes fora à sua cabeceira.
E nesse mesmo tempo houve,
Um povo que não fala nem ouve,
Um neto mestiço que chora,
Que é chegada a hora
De erguer a voz.
Filhos da Madrugada Fria,
Capitães do cravo empunhado.
Guitarras, poetas e artistas
Desse querer violentado!
Grândola do poeta e da guitarra
Da ensanguentada costa africana
Do rechaço e da amarra
Canta Morena Vila Alentejana!
(Poema elaborado para a exposição do 25 de Abril de 2004 -UTL)
1 Comments:
Neste põe, elaborado para uma exposição que comemorava os 30 Anos de Abril, acabou por ser o tema central da exposição. Embora tenha passado um pouco ao lado dos visitantes.
A ideia era contar um conto. Isto porque, quem organizou a exposição não viveu o 25 de Abril, vive a data através dos livros, das páginas rasgadas dos poetas, mendigos das linhas censuradas em azul. Sentimos Abril através dos acordes e letras de nomes como Zeca Afonso, Ary dos Santos, Paulo de carvalho, etc...
Daí que o poema seja um conto, algo que passou à muito e do qual vivemos pelas páginas...
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