quinta-feira, agosto 05, 2004

Filhos de Vilar Formoso

Uma mala de cartão,
Que levaste pesada de desilusões,
Na mão
A nota, nos olhos as lágrimas dos anões...

... que partem desta terra de homens grandes
dos doutos corvos de capa e batina,
de ceptro na mão, amantes
da autoridade, aves de rapina.

Ergueste a voz
Silenciaram-na em tons de azul,
E a nós,
Os filhos dos filhos,
Netos dos tais,
Sobram-nos as palavras escritas,
Os rios de tinta censurada,
Mendigos das páginas rasgadas do poeta,
Dos acordes perdidos do músico...

...Mas e o amor?!
Esse amor que te vez descer à rua?!
E a madrugada que saudou,
As fardas verdes?
E essa esperança nua,
Pudica e tímida?
Quem a recordou?
Quem a esqueceu?
Atreve-te pois a ubicá-la
Na geografia das tuas recordações.

Dir-te-ei o que quiser,
Ouvir-me-ás
O Ás caiu,
A cátedra vazia, ninguém a recorda,
Uma corda –Não!- um fio,
Que sustentava a frágil marioneta...
Caiu o às e ficou o pateta...


E agora?
Que já não há poetas?
Nem músicos?
Descansa...
Respira...Os filhos dos filhos,
Os netos dos tais...
...os poucos de então
são agora mais!!!


(Poema sobre o 25 de Abril)