sexta-feira, novembro 05, 2004

Poeta

I.

Sou filho do mundo,
sem janelas para o exterior.
Sou bicho minúsculo,
retraído músculo,
ou ocaso pintor.
Domador das linhas,
e dos seus preenchimentos,
mareante na caravela dos versos,
mestre na arte de esgrimar com caneta.

II.

Sou filho da prostituta escrita,
que aqui se oferece ao amor de todos.
Toca-te, caro leitor, nos lábios,
no ar quente que expeles ao ler,
sussurra-te aos ouvidos,
ubicada na tua própria voz.
Arranca-te um sorriso ou lágrima,
num empréstimo assinado,
com nota de devolução.
Estende o corpo despido,
para que a possuas em cada palavra,
oferecendo a nudez
à tua dicção.

III.

Não te convenças
que é eterna a concessão.
Esta poesia é amante,
nas artes e alquimias
do aplauso ao choro.
Não sabe, não pode,
não ascende,
nem entende
a perpectuidade.
Não é mãe,
falta-lhe a arte,
é amante casual.