Uma batalha ganha
Estou a armar-me para morrer,
desta morte que é escrever,
um poema de peito aberto.
Assim, entrego a alma a quem ma alugou.
Devolvendo os dias, as horas e os seus minutos
ao relojoeiro da História.
Guardo na descosida algibeira, os diminutos
seres que de mim há memória,
e que, já agora, valham a pena.
Ao carcereiro dos mil seres de mim
entrego-lhe as chaves da cela do meu último eu.
Recolho delicadamente no jardim
o cravo que a Rosa pariu.
Sou eu!
Filho da Maria desta Vila,
Rosa das mulheres deste mundo!
Sou eu! Poeta da matilha
dos silêncios ignorados,
Cavaleiro Quixoteano.
Hoje vou morrer novamente!
Outra morte de mim,
trespassado pelas palavras.
A poesia mata assim!
(Ainda que não pareça, este poema não é triste. Desafio aos leitores a dar-lhe a volta e descifrar o seu simbolismo)
5 Comments:
talvez eu fizesse melhor figura se te conhecesse um pouco melhor, não sei...
vou tentar.
escrever mata, entregas-te completamente.
pegas na caneta. esperas.
e vem aí, toda uma legião de palavras que passa por ti a uma velocidade vertiginosa.
e às vezes, sem saberes como, tu, que te pensas um cravo, dás por ti a escrever o que nunca imaginavas. a agarrar em algumas dessas palavras que, de tanta velocidade a que passava por ti, nem tens sequer tempo de as ler.
sais de ti.
e quando voltas, aí, sim, ouvindo a tua própria, ofegante respiração, descobres que estiveste bem longe. recordas, nada nitidamente, o momento em que escreveste.
não sei...
Cara pulga:
Está muito interessante a tua perspectiva. Ainda não vou dar a minha interpretação, deixa que mais pessoas comentem, depois dou a minha ok? Mas deixa-me que te diga que está muito interessante. Já deveria ter feito isto há mais tempo, só assim posso ter uma noção de como as mesmas palavras nos conduzem a lugares tão diferentes... ou não. Não disseste se gostaste, o facto é que escrevi ontem e minutos depois tive para o apagar, é muito pessoal, talvez o mais pessoal, e parece bastante fraco. Aliás todos eles são, mas este eleva-se a patamares irritantes.
Espero que tenhas um pouco de paciência, eu dou a minha interpretação assim que tenha mais uns comentários.
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Poesia é Morte. É Passagem.
Morte em que deixamos de Estar para Ser.
Poesia é Arma, cavalo de uma Batalha (sempre ganha)
E cárcere onírico que aprisona e asfixia.
Prisão da qual já não nos podemos libertar.
Batalha da qual já não podemos desertar.
Doença da qual já não nos podemos curar.
A Poesia Mata, mas também desperta-nos para uma Outra Morte que é a Vida.
Ai ai...A saudade. Desculpa a minha ausência ams tenho andado...hum...apática. Não escrevo e o que escrevo é pouco...A vontade também não tem sido muita. Isto dá-me uma profunda raiva, até que me lembrei de uma vez me dizeres: "Escreve sobre o facto de não conseguires escrever..." E enfim, isto desencalhou. Mas a alavanca que fez mover as minhas palavras foi este poema. Obrigado.
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