sexta-feira, novembro 19, 2004

Taberna

Dias há, caro leitor,
Que rastejo nas ruas da ausência,
Na vila do nenhures.
Procurando por ruas e travessas a dor
Que tive ou a saudade que partiu.
Algures,
Na calçada, uma sussurro se ergue,
É a pegada
Que me segue,
Dos passos que dou.
Olho para trás e nada vejo,
Que o passado não tem rosto,
É corpo ausente e macilento,
Quase sempre lamento.
As vozes de ontem,
do cansaço e da repetição,
são os ecos de então,
Musculados pela acústica da rua,
Gritam palavras ouvidas,
De uma Ordem antiga.
A Lua,
Cúmplice das mentiras da noite,
Sorri com doçura,
Acenado para a uma taberna.
Nela encontrei a minha alma,
Embriagada ao balcão,
Com a vontade num copo de vinho,
E a esperança pelo chão.

1 Comments:

Blogger João said...

Repara few words, "rastejo nas ruas da ausência", logo são ruas desertas, onde o que procuro não encontro. Depois, "procurando por ruas e travessas a dor que tive ou a saudade que partiu", ou seja, procuro coisas que não tenho, que partiram e não voltaram, mas que procuro para alimentar o "estrangeiro", como se um isco fossem.
"a pegada que me segue são os passos que dou", ou seja, são o presente, os passos que imediatamente antes dei, não há passados negros perseguidores. "Olho para trás e nada vejo", por esquecimento obrigado ou por falta de significado, daí o "passado não tem rosto". A ordem com maíusculas foi uma ideia que me pareceu interessante utilizar, por um lado a dúvida de se era a vontade de Deus (daí a maiúscula) de como as coisas aconteciam, ou então a ordem, como modus vivendi, como ser em si mesma que ditava tudo o resto.

Não é pessimista. Se duvidas ficarem é favor perguntar.
jinhos

10:57 da tarde  

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