terça-feira, novembro 23, 2004

Mina de São Domingos

I.

Doze corvos desceram à terra,
Num profundo abraço à escuridão.
Doze nomes de guerra
Que sem glória dão-se a mão.
Descem nos vagões do tempo
Que não os soube poupar.
Cantam à alma perdida na Achada
E que não podem encontrar.
Tremem de frio e de fome
Que o medo, não o sabem recear.
Levam o coração enegrecido,
O corpo cansado,
O orgulho esquecido.
Embriagam as penas sujas,
Vividas na tristeza negra de cada dia.

II.

Um lugar havia
Onde os homens eram heróis anónimos,
Corpos altivos de orgulho esmagado,
Guerreiros do negrume,
Navegantes das profundezas,
Domadores das tristezas.
De coração negro e petrificado,
De pulmões poluídos,
De ofegante viver.
São os corvos da Mina,
Que ali trabalharam
E ali foram morrer.

III.

Hoje são memórias,
São histórias,
Contadas entre lágrimas e copos.
São glórias
Silenciadas pelo som das máquinas
Que se calaram também.
Ficou o silêncio,
A solidão e a saudade.
Na verdade,
Ficaram vidas,
Com as suas esperanças e sonhos,
A triste sina,
A má sorte,
De quem viveu na Mina,
E aí teve morte.

Para AF (Obrigado por me dares a conhecer lugares como este)