A praia dos esquecidos
A noite veio beijar a areia
de uma praia algarvia.
Mal sabia,
a noite encantada, que a maresia
não traz apenas búzios e conchas mágicas.
Acompanha-a as ondas,
e com elas os ecos dos mareantes perdidos.
O mar ulula eloquente
Conta histórias de glória desta gente,
que bebe na íris dos olhos as águas turvas da aventura.
Embriagados de fantasia,
troçam da amargura,
e afogam a alma nos mares,
menos extensos e mais pesados.
E, aos pares,
com uma cadência quase precisa,
derrama-se as almas no vidro frio,
e ouvem deleitados histórias
que conhecem de fio a pavio,
com pontos e vírgulas
e alguns acrescentos,
como aquela que contam que num barco ia um,
e passadas algumas marés, iam centos.
As marés vão e vêm,
morrendo na praia sedenta dos lábios.
São sábios,
artesãos do conto,
curtidos na força das ondas,
polidos nas narrações do mar.
Afogam-se, que é essa a morte do pescador,
nas turvas águas da dor,
na saudade dos anos que não vão voltar.