sábado, outubro 22, 2005

Anoitecermo-nos


Grita-se: "Noite!".
E a noite das noites cai
no anoitecer do dia.
Pintando tudo de breu.
E enquanto anoitecia,
meu coração que nada sabia,
sabendo-se de noite, escureceu.

E na escura noite fria,
a minha alma se perdeu.
Cega na noite fria que escurecia,
sem o alento do coração que anoiteceu.

Mergulhando tudo no mais puro breu.
Já não se sabia,
se era a noite um escuro dia,
ou um dia que anoiteceu.

Grita: "Açoite!".
E pelo açoitar da minha alma que anoitecia,
já não deve ser noite,
e talvez nem dia!


Para AF

sábado, outubro 15, 2005

Nós


Deitei-me contigo,
amanheci em nós.
Na noite dos nossos tristes rostos
desenhou-se uma alvorada de mimos.

Descemos o rio dos nossos seres,
fomos um nós,
escrevinhando notas de rodapé
no texto das nossas vidas.

Rabiscámos desencontros
unimo-nos em longas cartas
de brancas folhas.

Parafraseando notas de bandas sonoras.
Prometemo-nos tudo na tarde
dos nossos seres.
Deixámo-nos ser,
deixando ser este nós
que entardeceu.

Na noite desta promessa
deitámo-nos silenciosos,
poisámos a caneta
e sorrindo nostalgicamente,
nada dissemos.