Estava a olhar para ti, meu poeta!
De busto encadernado,
cheio de pompa e circunstância.
Reparava na altivez da tua brochura,
nas letras douradas.
Arrimado aos outros,
génios das letras, artes e ciências.
Imaginei-te as noites que mergulhado
nas cadências da rima métrica,
espartilhaste as palavras
à ditadura das convenções poéticas.
Depois?
Depois contei-te os suspiros,
fiz tombo das palavras riscadas,
das folhas rasgadas
e dos silêncios que sentidamente escutei.
Por tudo isso,
digo-te: Anda!
desce do alto desse livro empoeirado
ao qual emprestas o nome.
Larga os adjectivos, os nomes e as métricas
cheias de pó e traças.
Abandona a tertúlia dos sábios
na quarta estante desta biblioteca.
Desce,
desce e vem escrever,
vem finalmente escrever!
Brincar com o menino traquinas,
que pula e corre,
entre verbos e nomes,
que muda letras e descobre significados,
que no desgoverno da sua brincadeira
poetiza!
É esse menino
que descansa em sono pesado,
rendido aos soníferos das convenções,
silenciado nos riscos,
habitante das páginas rasgadas
que te ofereço.
Vem,
traz contigo a arte,
que o menino despertamo-lo juntos.