Uma batalha ganha
Estou a armar-me para morrer,
desta morte que é escrever,
um poema de peito aberto.
Assim, entrego a alma a quem ma alugou.
Devolvendo os dias, as horas e os seus minutos
ao relojoeiro da História.
Guardo na descosida algibeira, os diminutos
seres que de mim há memória,
e que, já agora, valham a pena.
Ao carcereiro dos mil seres de mim
entrego-lhe as chaves da cela do meu último eu.
Recolho delicadamente no jardim
o cravo que a Rosa pariu.
Sou eu!
Filho da Maria desta Vila,
Rosa das mulheres deste mundo!
Sou eu! Poeta da matilha
dos silêncios ignorados,
Cavaleiro Quixoteano.
Hoje vou morrer novamente!
Outra morte de mim,
trespassado pelas palavras.
A poesia mata assim!
(Ainda que não pareça, este poema não é triste. Desafio aos leitores a dar-lhe a volta e descifrar o seu simbolismo)